"Mas por que choras?" perguntei à criança. E ela, sem pestanejar respondeu-me: "choro porque acabou o amor do mundo, porque acabou o valor das pessoas, e a compaixão. Choro porque existe preconceito, fome, e dor. Por que existe mais dor do que amor, e por mais que essas palavras rimem, deveriam ter sentido distante. Mas não tem, que ama chora, sofre, morre por dentro. Choro aqui, meu senhor, porque não existe um poder de escolha sem julgamento, não existe forma de amor sem preconceito. Porque o mundo está cheio de crianças sem pai, tendo como exemplo as barbarias da rua. Choro e soluço, sem parar, porque não posso ajudar nenhum deles...porque não posso salvar o mundo num estalar de dedos."
Assustado e surpreso, rebati o discurso da pequena. "Mas não serias pequena demais pra tantas angústias? Não te consideras muito nova pra tantas mágoas no teu coração? tanta preocupação não faz mal pra ti minha criança?"
E aqueles olhos cheios de lágrimas, me responderam no mesmo instante. "Sou pequena mas meu coração é grande, e minha estatura e idade não interferem na minha consciência. Se eu pudesse eu mudava o mundo senhor, mas não posso! Por mim todo mundo era igual. Negro, rico, gay e pobre. Por mim todo mundo era criança pra sempre, só pra nascer e permanecer sem preconceito. Só pra conseguir amar as pessoas pelo que elas são interiormente, e não por fora. Mas um dia, senhor, eu vou crescer. Vou ser uma grande mulher, e vão colocar tanta caraminhola na minha cabeça, que eu vou acabar por pensar como vocês. Um dia eu vou crescer e a televisão e a internet vão envenenar minha inocência e por toda a minha revolta a perder. Choro agora pra conseguir lembrar depois que um dia eu chorei por uma boa causa. Uma causa que as cabeças envenenadas não mais enxergam, apenas se preparam pra persuadir as novas gerações com o seu bando de porcarias preconceituosas".
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